Como será o amanhã na Sapucaí!!
Com atraso pela mais nobre das causas - férias, galera!!! -, o blog oferece seus palpites sobre os enredos das grandes escolas de samba cariocas para 2011. Da evolução humana à agricultura, da saúde aos sonhos, da navegação ao cinema, tem assunto para todos os gostos carnavalescos, num promissor cardápio de temas. A maratona de samba começa na noite de 6 de março, mas tem, desde já, um par de campeões: a cultura brasileira, celebrada em três personagens iluminados de sua história - Roberto Carlos, Maria Clara Machado e Nélson Cavaquinho - e o querido Rio de Janeiro, que será exaltado, em abordagens distintas, por três escolas.
Uma nova e bem-vinda tendência emerge das escolhas - enredos de entendimento mais fácil. Aqueles quebra-cabeças caóticos, que misturavam monstros pré-históricos, personagens remotos do Egito ou da Pérsia ou de Pangeia e brasileiros do futuro parecem estar saindo de moda. Prova de que os dois últimos carnavais, vencidos pelo Tambor do Salgueiro e pelo Segredo da Unidos da Tijuca, inauguraram uma nova ordem na folia, mais leve e de entendimento mais fácil. Benza Deus.
Assim, vamos lá, na ordem em que vai passar pela avenida o nosso samba popular, maior de todos os espetáculos.
São Clemente, "O Seu, o Meu, o Nosso Rio, Abençoado por Deus e Bonito por Natureza" - Proposta de Fábio Ricardo, solitária revelação no deserto de novidades da criação carnavalesca, o enredo da caçula do Grupo Especial (que mais uma vez tentará fugir da maldição do ioiô) promete desfile leve, que pode agradar o público por festejar os predicados da capital do samba. O primeiro passo para ficar entre as grandes está dado, com um tema de entendimento fácil. Briga para ficar.
Imperatriz Leopoldinense, "Imperatriz Adverte: Sambar faz bem à Saúde!" - Bicho-papão dos anos 1990 e da virada do século, a verde e branco tenta, de novo, recuperar o status perdido com um enredo sobre a medicina. Ideia original do pesquisador Hiram Araújo, o tema, pesado a olho nu, ganhará abordagem leve de Max Lopes, com referências ao mal da vaca louca às gripes suína e aviária. Pode funcionar - desde que o carnavalesco acerte a mão e a escola desfile melhor do que em 2010, quando pouca coisa deu certo. Pelotão intermediário.
Mocidade Independente, "A Parábola do Divino Semeador" - Um dos poucos enredos patrocinados do ano, é também uma das raras bizarrices da safra. A turma de Padre Miguel vai juntar agricultura, pecuária e meio ambiente, bancada pela Confederação Nacional da Agricultura, a entidade que reúne os proprietários de terra e manda-chuvas do agronegócio. É esperar para ver o que nasce dessa plantação. Outra que ficará ali pelo meio da tabela.
Unidos da Tijuca, "Esta Noite Levarei sua Alma" - Na luta pelo bi, a azul e amarelo vai mergulhar num universo que seu carnavalesco, Paulo Barros, vive frequentando: o cinema. Seu plano é fazer da Tijuca um filme, com vários personagens das histórias de terror e até menções à morte nas telas. Estrela emergente da tribo carnaval, festejado com fervor religioso pelos adeptos de seu estilo, ele cruzará a Sapucaí em novo patamar, dado pelo título de 2010. Como ensina o Homem-Aranha, grandes poderes trazem grandes responsabilidades - e, no caso, uma cobrança muito maior. A seu lado, o carnavalesco terá uma escola motivada, entusiasmada e a cada dia mais estruturada. Vai brigar pelas primeiras colocações.
Vila Isabel, "Mitos e Histórias Entrelaçadas pelos Fios de Cabelo" - Penúltima escola a decidir seu enredo, a azul e branco patina por causa da temporada na prisão de seu presidente, Wilson Moisés. Depois de flertar com Angola e joias, chegou-se ao cabelo, graças a um patrocínio em fase final de acerto. Todas as lendas e crenças que cercam o assunto - criticado pelo prócer Martinho da Vila - estarão na apresentação da escola, agora com o reforço da carnavalesca Rosa Magalhães. Maior campeã da Passarela do Samba, ela ganha nova chance para acertar a mão, o que não acontece faz tempo (mesmo na Imperatriz de tantas vitórias). Além da adaptação da nova contratada e a natural demora na tomada de decisões, com o presidente na cadeia, a Vila ainda terá de lutar contra o atraso para produzir seu carnaval. Pelotão intermediário - se o samba ajudar, briga por uma vaga no Desfile das Campeãs.
Mangueira, "O Filho Fiel, Sempre Mangueira" - Nelson Cavaquinho, sambista genial que ilumina a história da MPB, será o homenageado da verde e rosa no seu centenário. A boa ideia de não repetir o crime hediondo do centenário de Cartola - quando o maior de todos os bambas não foi enredo - enfrentará problema endêmico na escola: a dificuldade na produção de alegorias e fantasias. Além disso, a Mangueira precisará de um desempenho melhor do casal de mestre-sala e porta-bandeira, Raphael e Marcella, que decepcionaram na avenida em 2010. Mas a lendária garra dos componentes estará lá, plena, fazendo a festa espetacular de sempre. Emoção garantida. Com um bom samba, dá até para beliscar um lugarzinho nas Campeãs.
União da Ilha, "O Mistério da Vida" - Após sobreviver à volta ao Grupo Especial, a tricolor propõe enredo interessante, sobre as obras de Charles Darwin, criador da teoria da seleção natural. A segunda noite de samba na Sapucaí será aberta com um painel da Natureza, num desfile de muita cor e leveza, bem a cara da Ilha, promete seu novo carnavalesco, Alex de Souza. Outra que depende da escolha do samba para sonhar com uma colocação melhor. Até segunda ordem, briga para não cair.
Salgueiro, "Salgueiro Apresenta: o Rio no Cinema" - Melhor carnavalesco em atividade, Renato Lage criou um enredo com a sua cara, que dá ao Salgueiro um lugar entre as favoritas do ano. O Rio como cenário de filmes nacionais e estrangeiros terá o costumeiro show de criatividade e efeitos especiais do principal artista da escola, que costumam encantar o público. E o tema terá patrocínio, garantindo recursos que faltaram no opaco desfile sobre o livro, em 2010. Para completar, o Salgueiro vive ótima fase, com a quadra reformada e os componentes felizes, como se pode conferir nos ensaios, que começaram há quase dois meses. O final feliz, entre os primeiros colocados, é certo.
Portela, "Rio, Azul da Cor do Mar" - A ainda maior campeã da festa também demorou muito a se decidir. Foi a última a divulgar o enredo, uma peça de puro fisiologismo carnavalesco. Vai tratar da navegação e das riquezas do mar, com o gancho do centenário do porto carioca. O tema foi uma decepção para a turma da águia, que sonhava com um desfile sobre os 110 anos de Paulo da Portela (corrigido com a ajuda atenta do bamba Pedro Migão, a quem o blogueiro agradece). O carnavalesco Roberto Szaniecki, dono de prestígio entre os colegas mas que costuma ter problemas para concluir seus trabalhos. Assim, o tempo escasso até o desfile parece um drama potencial para a Portela, que, a seu favor, terá, como sempre, a entrega apaixonada dos componentes. Por causa deles, pode conseguir uma vaga na metade de cima da tabela de classificação.
Grande Rio, "Y-Jurerê Mirim - A Encantada Ilha das Bruxas (Um Conto de Cascaes)" - O enredo mais enrolado do ano, tentativa de arrumar um caraminguá no velho estilo "exaltação-de-cidades-estados-etc", vai falar da história e das lendas de Florianópolis desde tempos imemoriais. O flerte com o poder público gerou uma crise na capital catarinense, com críticas de vereadores, ameaça de investigação, o bafafá que acompanha este tipo de iniciativa. Será um desafio para a da tricolor de Caxias manter o retrospecto dos últimos anos, de presença cativa nas Campeãs. Mas a escola tem conseguido, ano após ano, surpreender os críticos. Assim, melhor não duvidar.
Porto da Pedra, "O sonho Sempre vem pra Quem Sonhar..." - A escola do Tigre junta-se à festa da cultura do desfile de 2011, para celebrar a grande criadora de peças infantis Maria Clara Machado. É a segunda vez que o carnavalesco Paulo Menezes se debruça sobre a obra da teatróloga (a primeira foi na União da Ilha, em 2003), e promete agora uma festa de sonho e imaginação. Com o acerto no enredo, a escola de São Gonçalo precisa de um bom samba para ficar no Grupo Especial, seu objetivo de todo ano.
Beija-Flor, "A Simplicidade de um Rei" - Há muito tempo, o carnaval não tem uma favorita tão destacada como a azul e branco e sua homenagem a Roberto Carlos. A aposta, até em outras escolas, é que a habitual competência do povo de Nilópolis vai ganhar a pitada de emoção que faltou nos últimos anos. O entusiasmo do cantor com a ideia de virar protagonista na Sapucaí deu combustível extra à Beija-Flor, encarada, pelas outras, como a adversária a ser batida em 2011. Para completar, a escola livrou-se de um ancestral ponto fraco - a comissão de frente, coreografada há 15 anos por Ghislaine Cavalcanti, trocada pelo badalado Carlinhos de Jesus, que certamente dará estilo mais pop à abertura da apresentação. Além disso, Laíla, o todo-poderoso diretor de carnaval, finalmente entendeu que o modelo de desfile da Beija-Flor envelheceu, foi superado e necessita de novos ares e ideias. Daí, a promessa de um estilo mais leve e de maior comunicação com o público, sem monstros, esfinges, alegorias que precisam de bula, etc. Mas há obstáculos a serem vencidos. A escola terá de tourear um assédio nunca visto pelos lados de Nilópolis, onde os componentes sempre se prepararam em ensaios quase exclusivos (segunda e quinta, lá na Baixada, quem vai?). Este ano, vai ter aquele desembarque de artistas e caronas variados, em busca de um lugar na avenida. A escolha do samba, entre mais de 90 candidatos, também será um desafio, assim como as escolhas na hora de contar vida e obra do mais famoso cantor brasileiro. Mas, entre pendores e dilemas, a Beija-Flor é muito favorita.
Para fechar a tampa, ficamos assim: na luta pelo título, a Beija-Flor larga na frente, destacada, seguida por Salgueiro e Tijuca. Depois, vêm quatro escolas - Grande Rio, Mangueira, Portela e Vila Isabel -, que disputarão as outras três vagas nas Campeãs. Imperatriz e Mocidade ficam no meio da tabela, longe dos primeiros lugares mas a salvo da briga mais cruel, a de Ilha, Porto da Pedra e São Clemente, contra o rebaixamento ao Grupo de Acesso.
É o que diz a nada confiável bola de cristal do blogueiro, palpites que, claro, vão mudar muito, quando vierem os sambas, os ensaios técnicos, as fofocas dos bastidores - até começar a nossa festa suprema, na Sapucaí. Gostou? Discorda? Comente à vontade, você aí. Mas com educação, cláusula pétrea da convivência aqui no blog. Afinal, grosseria não é coisa de bamba.
Publicado por: Aydano André Motta
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