ENTREVISTA A NUNO BASTOS DA BI-CAMPEÃ NACIONAL !!


INTERPRETE, COMPOSITOR E " MESTRE " DE BATERIA DA VAI QUEM QUER DE ESTARREJA!

Oi Amigo!!



1 – Como e quando começou a tua carreira no samba?

Viva! Desde já, e antes de responder à tua pergunta, queria aproveitar para agradecer a forma como sempre fui tratado, acolhido e acarinhado pelas pessoas da Figueira que tive oportunidade de conhecer ao longo destes anos, algo que não esqueço e nunca esquecerei. Guardo no meu coração e mente.

Relativamente à tua questão, posso dizer que a minha carreira oficial no samba começou em 1993, quando ingressei na ACRES Vai Quem Quer.


2 – Como descreves as várias etapas da tua passagem pelo mundo do Samba?

Eu digo oficialmente porque já frequentava a sede da escola e os ensaios desde 1988, pois o meu pai ingressou no samba nesse ano, que era o 2º ano da Escola. Creio que já aí começou o gosto pelo samba, mas (in)felizmente não pude realizar logo essa vontade, pois já assumia um papel numa fanfarra de algum relevo, apesar da minha tenra idade, e o qual não me deixavam abdicar disso, pelo que o ingresso foi sendo adiado ano após ano até 1993, quando me deixaram finalmente entrar na escola e desfilar no carnaval, também porque o meu irmão, que é mais novo , tinha inclusive entrado em 1992, mais cedo que eu, tornando-se inevitável a realização desse meu desejo.

Bem, não sei se posso classificar a minha passagem pelo mundo do samba por etapas, pois apenas vejo como uma paixão e uma etapa, que é a evolução. O meu desejo é continuar a aprender mais, a evoluir e fazer aquilo que eu gosto e me dá prazer. Foi essa vontade de evoluir que me possibilitou estar em diversos papéis no mundo do samba. Comecei no samba como ritmista da bateria, onde o meu instrumento era caixa. Desfilei até ao carnaval de 1998 nessa função, mas fruto dessa paixão e ambição fui tentando aprender outros instrumentos, observando aqueles que melhor os dominavam. Em 1998 assumi outro papel na escola, como intérprete e tocando cavaquinho, função que assumo até hoje. Nesse mesmo ano, ainda com 17 anos, assumi o papel de auxiliar do Director de Bateria da VQQ da altura que era o Mestre Pato, dividindo a directoria de Bateria com o “meu” mestre igualmente em 1999, e apartir de 2000, já com mais maturidade, assumi a responsabilidade de comandar a bateria da VQQ até aos dias de hoje.


3 – Alguma vez tinhas pensado em ser mestre de bateria? Se sim, em quem te espelhas para dirigir a bateria do VQQ? Se não, o que te levou a sê-lo?

Nunca tinha pensado ser mestre, embora na questão anterior tenha falado que tinha ambição no mundo de samba, mas a minha ambição era a de saber sempre mais e mais, aprender mais, ouvir, ver, tocar os instrumentos de samba. Quem me conhece e quem conviveu comigo nesse meio, sabe que em minha casa só se ouvia, falava, tocava e respirava samba em todas as divisões, para não falar na escola, nas aulas, enfim… Por isso digo que não tinha essa ambição, mas foi algo que aconteceu naturalmente, tanto que a passagem desse testemunho do Mestre Pato para mim foi muito pacífica e gradual. Aproveito para deixar uma palavra especial de apreço por essa pessoa, que pouca gente conhece actualmente no panorama nacional do samba, mas a quem eu devo muito como sambista e pessoa, e é sempre uma das primeiras pessoas que eu procuro para mostrar quando faço algo para a escola.


4 – Agora como mestre de bateria que és, como te sentes perante os teus ritmistas e perante os outros “ mestres “ de bateria em Portugal?

Não gosto que me tratem por Mestre, porque não me considero como tal, prefiro ser conhecido como o Director de Bateria, que é de facto a minha função na Bateria. Perante os ritmistas da VQQ, sinto-me orgulhoso pelo que têem conseguido, pela sua evolução e consequente contribuição para evolução da bateria verde e branca, e empenho, embora eu cobre ainda mais empenho pois penso que a bateria ainda podia estar num nível mais acima, se houvesse mais algum empenho e dedicação. Relativamente aos outros mestres de bateria, só tenho a louvar o trabalho de todos, pois sei que o fazem com todo o gosto e dedicação, com um objectivo comum, que é o desejo de que as suas baterias evoluam e consequentemente o samba em Portugal evolua e cresça também. Eu partilho desse mesmo desejo.


5 – Qual o mestre de bateria que admiras mais e porquê?

Acho que não tenho um “Mestre de Bateria” preferido. Há alguns nomes de referência no panorama do Brasil como Mestre André, Odilon, Ciça pela sua competência no cargo de Directores de Bateria, mas costumo não procurar os nomes, mas sim a batucada que mais me agrada, e a verdade é que ao longo dos anos houve baterias que se tornaram referências para mim pelo seu balanço, swing, sonoridade, mesmo havendo trocas de Directores das respectivas, essas características mantiveram-se. Como costumo dizer, a Bateria é o espelho do seu Director, e por isso a Bateria fala por mim…. Se a bateria falha, foi por que eu errei, se ela esteve bem, naturalmente tive alguma influência nisso, por isso, o Director é julgado pela sua bateria.
Não posso deixar de aproveitar de dizer aqui, que houve um Mestre de Bateria no panorama nacional, que todos conhecem que é o Xando, que eu admiro e respeito como sambista, reconhecendo-o como o melhor de Portugal, em quem me espelhei na minha evolução no samba, procurava-o onde estivesse para o observar, chegando a imitá-lo, e muita gente brincava com esse facto, mas não tenho problema nenhum em admiti-lo, mas a verdade é que foi assim que fui evoluindo, observando e aprendendo com os melhores, e ele era e é o Nº1 no samba em Portugal.
Não me envergonho disso, pois com a evolução consegui criar a minha identidade e auxiliar na criação de uma nova identidade na bateria da VQQ.


6 – Creio que uma boa bateria é fruto de organização, disciplina, ensaio e critérios na hora de avaliar um ritmista...Pergunto eu: como é feita a divisão dos sectores dentro da bateria do VQQ, ou seja, quantos directores te auxiliam e quais os critérios que utilizas para avaliar um componente?

A Bateria da VQQ tem um responsável máximo que sou eu, e assim tem funcionado ao longo destes anos em termos gerais, tendo havido pontualmente um alargamento de responsabilidades a outras pessoas em outros sectores. Tenho preferido chamar toda a responsabilidade para mim nesse aspecto. No entanto, e pelo facto de eu ser o interprete da Escola, não posso desempenhar da mesma forma o papel de Director de Bateria como um Director de Bateria no Brasil, em que fica na frente a comandar e dirigir. Assim sendo, nas actuações e ensaios em que estou no papel de intérprete, tenho elementos que conhecem-me bem, e sabem o que pretendo, assumindo eles então a condução da bateria. Nesse ponto, tenho o meu braço direito que é o meu irmão, o Andrezínho. Em função do crescimento da Bateria, e para uma melhor coordenação da mesma, e para que o trabalho flua da forma que eu pretendo, para o carnaval de 2010 constituí uma equipa de auxiliares para a bateria, que são eles o Andrézinho, Nuno Sardine, Madaleno, Pato e Fábio, havendo igualmente mais nomes que auxiliam os novos elementos na aprendizagem dos instrumentos.
Quanto a avaliar um componente, 1º dou liberdade para a pessoa escolher o instrumento que pretende aprender, caso nunca tenha tocado nenhum, mas facilmente vejo se é o mais indicado para o componente ou não, e no caso de não o ser, dou lhe a possibilidade de experimentar aquele que eu penso ser o mais indicado, e tem dado resultados. Há sempre mais critérios, como incluir eventualmente numa ala que se pretenda reforçar. Quanto ao facto de ele estar apto para desfilar na bateria, será sempre na condição de que execute o instrumento de acordo com o que é exigido e de modo a ser útil á Bateria.


7 – Várias opiniões apontam a bateria do VQQ como a melhor, coisa com que também concordo plenamente. Como sentes essa responsabilidade ao saber que estás no comando da melhor? Teve algum momento difícil, em que sentiste que não eras capaz de alguma coisa, e que sentiste a necessidade de ter apoio de amigos ou família?

Desde já agradeço pelo facto de considerar a Bateria da VQQ como a melhor. Não tenho a obsessão de que a bateria da VQQ seja a melhor só por ser, pretendo sim que ela evolua, execute bem, e que quem escute goste do que ouve, admirando e apreciando o nosso trabalho. Felizmente, essa evolução tem-se notado, e hoje é em dia a bateria da VQQ é reconhecida como uma boa bateria, uma das melhores do País, e sempre se exibindo ao nível elevado nos últimos anos, o que me deixa satisfeito, mas eu pretendo que ela evolua mais e que continue a subir mais degraus.


8- Como é feito o controle antes dos desfiles sobre os ritmistas, para se evitarem excessos com bebidas, que são tão prejudiciais ao desempenho da bateria?

Essa é uma questão sempre complicada, mas que não me tem trazido muitos problemas nos últimos anos. Os componentes têm sentido a responsabilidade que é estar na bateria da VQQ, e sabem que se cometerem excessos estão a prejudicar a bandeira que defendem, e como todos querem o melhor, isso dificilmente acontecerá. Não preciso proibir ninguém, nem chamar a atenção, todos sabem aquilo que espero e qual o comportamento que devem ter.


9 – Qual o momento mais marcante num desfile?

Para mim, é sempre o arranque da escola, o início do samba na avenida, quando dou o grito de guerra, é sem dúvida o ponto alto para mim. Apesar de já ter muitos desfiles, e de não ser muito efusivo, não consigo esconder a “raiva” que me dá no início de “puxar” o samba, e não dá para conter a garra e acabo cometendo algo excesso para a voz nesse momento e que prejudica o meu desempenho ao longo do desfile, mas faz parte.


10 – Qual foi o teu melhor desfile?

Não tenho nenhum desfile que destaque, para mim todos os desfiles são importantes, mas aquilo que espero sempre é que seja sempre melhor ano após ano. Deram-me o mesmo prazer tanto os desfile em que fui campeão, como aqueles que não alcançamos a vitória. Os dois últimos desfiles considero que forma quase perfeitos, tanto ao nível do desempenho da bateria, como no trabalho desses senhores carnavalescos e amigos que são o Juan e Nuno Sardine, colocando a VQQ em lugar de destaque no Panorama do Samba Nacional.


11 – O que gostarias de ver acontecer com as Escolas de Samba em Portugal e mesmo com o samba em Portugal?

Como sambista e amante do samba que sou, gostaria de ver as escolas de samba crescerem ao nível de estrutura, componentes, em qualidade, organização, e culminando numa liga nacional de escolas de samba, e um desfile nacional com dimensão, projecção, um evento com qualidade, que funcione como um verdadeiro espectáculo, e porque não a criação de uma escola de samba de Portugal, uma “União Lusa”, reunindo sambistas de todo o país e fazendo chegar isso no Brasil, para um desfile dessa Escola Nacional de Samba em solo brasileiro. Como dizia um dos meus sambas preferidos, “Sonhar não custa nada…”


12 – Como compositor, como isso começou e o que te levou a sê-lo?

Como compositor de samba, essa é uma faceta mais recente, embora já tenha composto outros estilos de música quando era mais jovem, mas nunca nada assim de muito levar a sério. No samba, isso já me era “cobrado” à algum tempo atrás, tanto pelo Camões do Trepa que entretanto já compunha sambas para o Trepa de Estarreja, como também pelo Guerreiro, mas sempre disse que só iria compor quando realmente me achasse com capacidades para fazer um samba que dignificasse a escola, e não a prejudicasse. Por isso, compus o meu primeiro samba-enredo para o carnaval de 2007. Depois veio 2008, 2009, samba esse que me deixou bastante contente e orgulhoso, tanto a nível de composição, como gravação, e tendo sido bastante elogiado por compositores de samba em São Paulo. Para o carnaval 2010, farei novamente o samba, mas possivelmente desta vez em parceria com o meu irmão, vamos a ver.


13 – Compões sambas para outras escolas? Só para escolas de samba?

Até agora só tinha composto sambas-enredo para a Vai quem quer, mas este ano foi me dado o desafio e ao mesmo tempo o privilégio, para compor o samba-enredo da Novo Império para 2010, e igualmente compor um samba para o grupo Furasamba, da ilha da Madeira. Acaba por ser um reconhecimento e um sinal de confiança no trabalho que tenho desenvolvido nessa área. Espero corresponder às expectativas e que as obras que realizei e irei realizar sejam do agrado dos componentes que irão defender esses hinos. Falo assim porque o samba do Novo Império já está concluído, tendo até já sido apresentado e cantado na quadra, no dia do 1º aniversário da Escola. Fiquei contente e satisfeito pelos comentários positivos dos componentes da escola relativamente ao samba, e até mesmo pelos comentários de componentes da VQQ que o escutaram. Isso me faz feliz.


14 – Por fim, que objectivos te propões a alcançar com o teu novo projecto de um trabalho a solo?

Quanto ao meu trabalho a solo, sempre foi um desejo pessoal que pretendia realizar, e que agora está a ser possível concretizar. Acho que tudo tem o seu tempo, e achei que esta era a altura. Como é sabido e do conhecimento geral, eu liderava igualmente um projecto de pagode, o grupo de pagode7e1, que existe desde 1998, e que sobreviverá sempre enquanto existir a amizade e o gosto pelo samba dos elementos que o compõem, por isso fica o aviso a todos os que acompanharam o grupo, que o 7e1 não acabou, apenas deu uma pausa… Decidi partir para esse projecto por diversos motivos. O 7e1 era e é agradável, mas foram 11 anos com uma evolução lenta, e a tocar as obras dos outros. Quando o meu irmão decidiu criar também o seu grupo de pagode, “Na contramão”, com as suas ideias, começando a tocar cavaquinho e a cantar, fomentando o gosto pelo samba em mais jovens, cheios de vontade de aprender, deu ainda mais consistência ao facto de criar um trabalho de minha autoria, que fosse mais a minha cara, e desse a conhecer um estilo de interpretação minha que não é tão conhecido, e sobretudo, um trabalho super profissional, com músicos profissionais, enfim, subir uns degraus na minha realização pessoal, ajudar a divulgar também o samba, e quem sabe fazer com que ele chegue ao Brasil. O objectivo principal é que fique um trabalho de qualidade, o que virá depois será sempre bom. Dois nomes importante nesse projecto: Vander Jeronymo (Director Musical) e Bruno Violas (Produtor Musical), não me podia esquecer…

Em jeito de conclusão, fico feliz pelo facto de o samba estar a crescer na Figueira, e a evoluir, demonstrando muita paixão pelo que fazem. Quero aproveitar para deixar um abraço a todos os sambistas figueirenses em geral, ao Unidos do Matogrosso, que acompanhei o seu crescimento, Jota e Família, que sempre me receberam carinhosamente quando aí me desloquei e não esqueço nunca; à Rainha, que apesar de não conhecer tão proximamente, tem evoluído, e não podia deixar de felicitá-los; e á Novo Império, igualmente pela forma que me trataram, receberam, e pela confiança que depositaram para eu compor o hino para 2010, Lena, Zé Carlos, e para ti Amaro, que continues a cultivar essa paixão pelo samba, com a tua humildade, mas com a certeza que segues no caminho certo para que as coisas evoluam para os patamares que ambicionas.

Um Abraço

Nuno Bastos

Autor: Luis Amaro

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • Twitter
  • RSS

1 Response to "ENTREVISTA A NUNO BASTOS DA BI-CAMPEÃ NACIONAL !!"

  1. João Abreu Says:
    segunda-feira, 28 dezembro, 2009

    Nuno, como director da Novo Império e responsável da Bateria a par com o Mestre Amaro e o seu mau feitio lololol,queria felicitar-te pelo composição do nosso samba enrredo pois está com grande qualidade vai ser de certeza um dos melhores sambas de 2010, pela minha parte e em nome da direcção quero-te aqui agradecer pois ainda não tive a oportunidade de faze-lo pessoalmente, espero que continues a compor por muito tempo e tudo o que precisares da nossa parte sabes que podes contar com a nossa colaboração em termos de escola de samba e em termos pessoais.
    Um grande abraço e um ano de 2010 com muita saude, sucesso e claro com muito samba.

    João Abreu (xuxa)